TERRAS DE PENAGOYÃ

Apesar de nos tempos de hoje não ser uma realidade correspondente
ao que era no passado, defendo a sua promoção e estudo.
Porque a nossa história deve ser estudada, preservada e publicitada.
"SE NÃO DEFENDERMOS O QUE É NOSSO, QUEM É QUE O DEFENDE?"
2018 Monteiro deQueiroz


As Terras e os castelos (séculos XI-XII)

O período correspondente aos finais do século X e inícios do seguinte foi marcado por um forte clima de instabilidade, traduzido em profundas transformações políticas e sociais que de certa forma aceleraram o processo de implantação do regime senhorial. A conjuntura interna e externa levou a uma forte militarização da sociedade e favoreceu a acção autonómica de senhores que tenderam a afirmar-se localmente cada vez mais desvinculados das autoridades condais, entendendo exercer o seu poder não já por delegação mas por direito próprio, num ambiente também de revoltas, lutas internas e guerras civis pela sucessão ao trono. As ameaças externas parecem ter favorecido e reforçado ainda mais esta tendência. Com o apoio de alguns senhores locais, as forças muçulmanas, chefiadas por Almansor, realizaram importantes investidas, com destaque para a conquista de Coimbra, em 987, e a célebre expedição a Santiago de Compostela, em 997. As zonas costeiras foram também fustigadas por incursões normandas que levaram as populações e os senhores laicos e eclesiásticos a promoverem, por sua própria iniciativa, a organização da defesa e a construção de fortificações.

Na segunda metade do século XI a autoridade asturo-leonesa foi de certa forma restabelecida o que permitiu uma nova etapa da expansão cristã, com as campanhas de Fernando, o Magno, a fazerem deslocar novamente a fronteira para Sul, levando à ocupação definitiva de Lamego, Viseu e Coimbra. Assistiu-se também a importantes transformações sociais, traduzidas na ascensão de determinados elementos da nobreza local, e a mudanças administrativas e militares. A antiga organização territorial baseada nas civitates foi progressivamente dando lugar a unidades administrativas de menor extensão, as Terras capitaneadas por um castelo, melhor adaptadas às novas condições geo-estratégicas da “Reconquista” e às transformações sociais entretanto registadas. O processo não foi imediato e deu certamente lugar à competição entre castelos, alguns conseguindo ascender a cabeças de Terra, enquanto outros entraram definitivamente em declínio, acabando mesmo por desaparecer (ALMEIDA, 1978a: 47-48; BARROCA 1990-1991: 115-119). Estas transformações traduziram-se numa consolidação do regime senhorial pelo qual os detentores de castelos e Terras, designados por “tenentes”, passaram a exercer uma autoridade sancionada pelo próprio rei. Estas mudanças representam também o definitivo declínio das antigas famílias condais e a emergência dos infanções que passaram a exercer funções fiscais, judiciais e militares nos territórios que controlavam (MATTOSO, 1982: 243-244). 

Não dispomos de séries documentais tão completas para esta zona do território duriense como as que permitem conhecer com certo detalhe o processo de desagregação da civitas Anégia em várias Terras, ao longo do século XI. Contudo, os elementos que possuímos apontam para a ocorrência de um processo semelhante nesta região do vale médio do Douro. Ao longo do século XI e sobretudo do século XII, em que o número de diplomas aumenta, multiplicam-se as referências que permitem identificar um número significativo de Terras que substituem a anterior organização estruturada em civitates. Na zona do Alto-Tâmega, em volta de Chaves, assinalam-se Baronceli, Montenegro, Rio Livre, Santo Estêvão de Chaves (TEIXEIRA ,1996) e um pouco mais para Sul, Aguiar da Pena (BARROCA et al., 1986). Na margem direita do Douro estruturam-se ainda os territórios de Panóias e Penaguião. Na margem Sul vamos encontrar São Martinho de Mouros, Lamego, Tarouca e Armamar. Cada uma destas unidades territoriais era capitaneada por um castelo, cabeça militar da respectiva Terra, embora frequentemente apoiado em torres e fortificações secundárias que ajudavam no controlo do território (TEIXEIRA, 2002). No governo destas Terras e na tenência dos respectivos castelos vamos encontrar alguns dos mais destacados membros das principais linhagens do século XII. Pela sua acção, a região do Douro Médio converte-se numa importante extensão ou mesmo no palco nuclear dos seus poderes senhoriais associados ao patrocínio dos principais institutos monásticos da região, onde estas famílias constituem também um vasto património fundiário.”

In Teixeira, R. (2008). Povoamento e organização do território nas regiões de Chaves, Vila Real e Lamego (sécs. IX-XIV). In III Congresso de Arqueologia Trás-os-Montes, Alto Douro e Beira Interior – Actas (Vol. 4, pp. 45–60). Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/23270/1/ActasIIICongressoVol042008.pdf

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